PROJETO ANDORINHA NA MÍDIA
Começa o segundo semestre do curso de Português para imigrantes do SEFRAS
Publicado em 06 de abril de 2016
No final da tarde da última terça-feira, 5 de abril, começaram as aulas do segundo semestre do Curso de Português para Imigrantes do Sefras na sede da instituição, à rua Hannemann 352, no Pari, região central da capital paulista. Nesta aula inaugural, além da apresentação do curso para novos e velhos alunos, o Centro de Referência e Acolhida do Imigrante (CRAI) ainda realizou atendimento social.“Tentamos fazer os atendimentos lá no CRAI, mas muita gente acabou não indo. Então, para isso não gerar nenhum problema, fizemos os atendimentos na aula inaugural. Apresentamos o curso e paralelamente fizemos o atendimento para que as questões do serviço social não sejam levadas à professora e que nós mesmos possamos cuidar disto”, explicou o coordenador do CRAI Paulo Amâncio.-
Professora do curso desde seu início no semestre passado, Renata Taño avalia o primeiro módulo de forma positiva. “Fomos descobrindo como fazer as coisas, quem eram os alunos e acho que eles obtiveram um resultado muito bom e responderam bem às atividades. Enfim, a proposta do curso foi de promover a inclusão por meio do ensino de cultura e língua e acho que eles se saíram muito bem”, comemora a professora. O resultado pôde ser visto durante o café servido antes da aula, por volta das 17h, quando alunos do primeiro semestre já se comunicavam muito bem com os trabalhadores do Sefras presentes. A sala é muito heterogênea em muitos sentidos, tanto em formação escolar, quanto em língua materna, quanto em questões de visão de mundo.
Um grupo de alunos vindos de Bangladesh se inscreveu no curso. Mesmo vindos de um lugar tão distante e de onde chega pouquíssima informação para nós brasileiros, o domínio deles da língua portuguesa é consideravelmente bom. “Quero aprender melhor como vocês brasileiros falam. Nós de Bangladesh, mesmo já podendo falar alguma coisa de português, ainda falamos coisas erradas, mas queremos aprender a falar como vocês – quero virar brasileiro”, afirma Jasim Ali, 28, aluno recém-inscrito no curso. - See
Jasim está no Brasil há apenas sete meses, mas morou durante sete anos em Ciudad Del Este, no Paraguai, onde pôde aprender o espanhol e ter um grande contato com a língua portuguesa, dada a enorme presença de brasileiros na cidade fronteiriça. “Para mim não foi muito difícil aprender o espanhol porque vou praticando e aprendendo, sempre tenho interesse”, contou Jasim, que foi convidado por um amigo para aderir ao curso. “Eu não tinha condições de pagar um curso particular, aqui é uma maravilha, é só chegar no horário para estudar e aprender. E um ajuda o outro no aprendizado. E sem pagar nada, ainda nos ajuda muito. Agradeço muito a quem organizou este curso”, concluiu.
Financiamento
Em momentos de crise e com os alunos apresentando um ótimo aproveitamento do curso, o grande problema se coloca no financiamento que ainda não dá conta de proporcionar toda a infraestrutura necessária.
“Nosso maior desafio agora é a parte financeira. Precisamos da verba para lanche e transporte. No primeiro semestre isso deu certo, mas agora tivemos que reduzir a verba de 75 vagas para 35 por conta dessa questão, e nem para as 35 vagas já conseguimos tudo. Então agora, o mais importante é correr atrás disso para que possamos oferecer o curso com a plenitude que buscamos”, afirma a professora Renata Taño.
Saiba mais: Portal do SEFRAS
CRAI-SP e Sefras fazem campanha para pagar transporte de imigrantes para cursos de português - Publicado em 17 de março de 2016
O Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI) de São Paulo e o Sefras (Serviço Franciscano de Solidariedade), entidade gestora do espaço, estão organizando uma campanha em apoio aos imigrantes que fazem cursos de português nas dependências do centro de referência.
O CRAI e o Sefras iniciaram cursos de português com imigrantes no ano passado, em parceria com o Núcleo Refazenda – que continua para mais este semestre. O primeiro módulo foi finalizado no mês de dezembro, no qual participaram ao todo 38 imigrantes, sendo que 16 deles conseguiram chegar até o final do módulo, em dezembro. Entre os alunos estava representantes de 9 nacionalidades: República Democrática do Congo (RDC), Bangladesh, Paquistão, Afeganistão, Síria, Palestina, Bolívia e Tunísia.
“Todos os obstáculos que a população migrante enfrenta para sua integração em nosso país são agravados pelos desafios da língua. Desta forma, além da luta diária pela promoção dos direitos da população imigrante, a demanda por cursos de português está sempre presente, sendo uma das principais urgências no trabalho das organizações e das políticas públicas. Um curso de português exige uma organização relativamente complexa, pois muitos significados são construídos em torno dele”, explica Fabio Ando Filho, assistente de gestão de projetos do CRAI e que coordena tanto o curso como a campanha.
No entanto, a questão do transporte é apontada como um dos elementos que mais atrapalham a participação dos imigrantes nos cursos, em virtude da distância para os locais onde residem. Por isso o Sefras resolveu fazer uma campanha de financiamento coletivo (crowdfunding) para ajudar a custear o transporte dos alunos.
As contribuições são feitas por meio do link abaixo. A meta é arrecadar R$ 6.400 até 4 de abril, quando a campanha se encerra.
http://www.kickante.com.br/campanhas/curso-de-portugues-para-imigrantes-2016
“As passagens pesam muito no orçamento dos alunos, alguns vêm de outras cidades, outros vêm em famílias inteiras, alguns estão desempregados, por isso, contamos com essa campanha e solidariedade para darmos continuidade ao nosso trabalho”, aponta Fabio.
Para este semestre a ideia é também abrir uma turma especialmente para crianças.
Curso é espaço de convivência
Fabio conta ainda que os cursos de português acabam indo bem além do ensino do idioma. As aulas se transformam em verdadeiros espaços de convivência entre eles, independente da nacionalidade.
“O curso acaba sendo também um espaço de convivência, de acolhimento, e uma referência para os alunos, que acabam nos trazendo outras demandas de suas vidas cotidianas. Por isso, temos também de propiciar uma boa estrutura para o desenvolvimento das aulas. Temos profissionais qualificados atuando como voluntários, material didático, lanche, espaço físico, acompanhamento sócio-assistencial, só nos falta ter condições de custear os gastos com transporte”.
O vídeo abaixo, feito no encerramento do primeiro módulo, mostra um pouco da convivência e de como são as aulas no curso.
“É um programa básico que busca ajudá-los a fazer coisas corriqueiras como matricular os filhos na escola, fazer uma entrevista simples de emprego, traduzir um currículo, se comunicar no dia-a-dia, entre outras coisas. Em termos de conteúdo, o que eu acho muito legal é que eles vão começar a aprender os pretéritos. Isso para o aluno abre um universo enorme. Eles até já aprenderam algo do futuro, mas na hora que você começa a falar do passado o mundo muda. Eles conseguem falar da própria história, do lugar de onde vieram, das suas raízes e isso é muito importante para eles que estão nessa condição de migrantes, e até mesmo os que são refugiados”, analisa a professora Renata.
Site Migra Mundo
http://migramundo.com/crai-sp-e-sefras-fazem-campanha-para-pagar-transporte-de-imigrantes-para-cursos-de-portugues/
FESTA DE ENCERRAMENTO DO CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA DE ACOLHIMENTO PARA IMIGRANTES REFUGIADOS
PROJETO ANDORINHA
JUNHO 2016
No passado dia 23 de junho realizamos o encerramento de mais um trimestre de aulas de português para imigrantes refugiados no PROJETO ANDORINHA por intermédio da parceria SEFRAS, CRAI, NÚCLEO REFAZENDA. A festa junina foi animada, com muitos comes e bebes, músicas típicas e muitas, muitas fotos. Os alunos fizeram uma apresentação individual e ficaram entusiasmados com a celebração! A pipoca foi a sensação da festa!
Neste módulo recebemos primordialmente alunos vindos de Bangladesh, além dos sírios e congoleses que já estavam conosco no ano passado. Foram oferecidas três turmas, incluindo um pequeno grupo de crianças, totalizando 50 alunos.
Contamos com a colaboração de 5 professores voluntários que realizaram um maravilhoso trabalho. Com muito entusiasmo as aulas foram conduzidas dentro do programa pedagógico estabelecido e levando em conta as características que cada grupo. Foi bastante enriquecedor e edificante lidar com um público tão diverso e diferente do que estávamos habituados.
As aulas serão retomadas na primeira semana de agosto com a abertura de uma nova turma para o módulo 1 e com a continuação do grupo deste trimestre no módulo 2. Esperamos contar também com a presença do público feminino entre os alunos!
Continuaremos com a campanha de arrecadação de verba para custear transporte e lanche!
Confira as fotos do evento!
Novos Modelos de Sucesso - Núcleo Refazenda
Conecte Blog
31.05.2016
Por
Renata Taño
Seguir seu próprio modelo de sucesso requer autoconhecimento, coragem e planejamento. Mas acredite, é possível e cada vez mais pessoas fazem isso e provam que ser feliz e bem-sucedido é algo único e interno, não algo externo.
Você acredita? Quer saber como?
Vamos proporcionar uma série de entrevistas com pessoas que optaram por seguir seu próprio caminho de sucesso e felicidade.
Confira a nossa entrevista com Renata Taño
1. Conte sobre você.
Meu nome é Renata Taño, sou brasileira e espanhola, casada, filha de um pai Uruguaio e de uma mãe brasileira. Cresci em uma família bem heterogênea e confusa, mas absurdamente sensível e humana. Tenho três irmãs fantásticas, sou multitarefa, adoro flamenco e hambúrguer! Vivo das coisas que acredito. São elas que me alimentam e me movem. Aprendi durante os anos de formação na escola waldorf que o educador pode ser o maior agente transformador da sociedade, que há vários tipos de inteligência, que devemos cultivar os nossos talentos e que é importante que nos desenvolvamos como seres humanos completos.
Sou chorona, intensa e um pouco exagerada. Gosto de escrever, de cuidar da horta e de cozinhar. Aprendi a crer e a conviver com o invisível diariamente. Sou formada em letras pela USP, mas transito por várias áreas de cuidado que possam oferecer ferramentas para construir uma ponte em direção ao outro.
Tive meu primeiro aluno aos 9 anos de idade em caráter de brincadeira, mas depois desse nunca mais parei. Trabalhei com reforço escolar no contra-turno na Associação comunitária Monte Azul aos 14, depois passei por uma série de espaços de educação e tive o privilégio de ter muitos encontros construtivos com crianças, jovens e adultos com as mais variadas características. Fui coordenadora pedagógica em uma escola de idiomas onde estive por 10 anos e hoje me dedico ao Núcleo Refazenda que trabalha com inclusão nas perspectivas da saúde, da educação e dos direitos humanos.
2. Conte um pouco sobre o seu trabalho.
Meu trabalho neste momento se divide em duas grandes linhas que se unem dentro da perspectiva da inclusão por meio do Núcleo Refazenda.
Por um lado faço atendimentos a jovens e crianças com necessidades educacionais especiais, acompanhando-os nos seus espaços de convivência e desenvolvimento com o intuito de criar juntamente com a escola, com os professores e com as famílias condições de pertencimento acolhedoras e emancipatórias. Nossa proposta é colaborar com a construção de espaços de convivência heterogêneos nos quais todos possam ter acesso aos mesmos recursos e onde as diferenças sejam vistas como ingredientes fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Por outro lado, oferecemos aulas de língua e cultura brasileiras aos imigrantes refugiados, adultos e crianças, que estão vivendo na cidade de São Paulo, visando contribuir para a integração desta população no mercado de trabalho e na vida social e cultural da cidade.
Atuando desde o segundo semestre de 2015 em parceria com o SEFRAS (Serviço Franciscano de Solidariedade) e o CRAI (centro de referência e acolhida para imigrantes), o projeto contou com 45 alunos em sua primeira etapa e atualmente temos 55 alunos. Toda a estrutura é mantida a partir de doações e o trabalho de todos os colaboradores é voluntário.
A formação contempla dois módulos de curso, 3 meses cada, nos quais são ministrados conteúdos linguísticos e culturais indispensáveis para a autonomia desta população em sua nova etapa de vida, promovendo a inserção dos imigrantes refugiados no mercado de trabalho e na vida social e cultural da cidade.
3. Qual o propósito do seu trabalho?
Nós entendemos que uma das principais ferramentas de inclusão para um imigrante refugiado é o domínio do idioma e das questões culturais do país que o acolheu. Sem essa ferramenta inicial ele não consegue construir sua autonomia, tendo dificuldades limitantes para promover o recomeço de sua história, pois não consegue se comunicar de maneira efetiva, não consegue trabalho, não consegue matricular os filhos na escola, tirar documentos etc.
Com esse propósito, desenvolvemos um programa de curso que busca suprir essas necessidades iniciais, que respeita o momento de vida, os costumes e as histórias dos alunos.
Além disso, o espaço da aula se transforma em um ambiente de troca e de alegria e colabora para que estes primeiros momentos no novo país possam ser mais amenos e agradáveis.
4. Por que você decidiu trabalhar com isso? Está relacionado com suas paixões, suas habilidades?
Decidi trabalhar com inclusão, de maneira geral, pois entendo que nenhuma sociedade pode ser sadia se coloca limites rígidos que excluem, pelos motivos que forem, uma determinada parcela da população. Nós vivemos em um país profundamente desigual e isso sempre me incomodou muito. É impensável que as pessoas tenham oportunidades de desenvolvimento pessoal tão distintas e que isso limite muito as possibilidades de atuação no mundo. Estamos atravessando um momento no qual as pessoas estão cansadas de sustentar padrões falidos de sucesso, de beleza, de saúde, de normalidade, de orientação sexual, enfim, e ajudar a validar este direcionamento é muito gratificante.
Tive também o privilégio de estudar em uma das únicas escolas em São Paulo que acolhia os alunos rejeitados pelas outras escolas. Nós aprendemos a respeitar e admirar as diferenças, fossem elas quais fossem. Todos nós cuidávamos uns dos outros e isso me possibilitou entender a importância do cuidado e do acolhimento.
Além disso, tenho uma família bastante heterogênea: meu avô materno é migrante vindo de Recife, minha avó tem ascendência italiana. Meu pai é uruguaio e minha avó paterna é espanhola. Eles chegaram ao Brasil em uma época na qual ainda não havia muitos imigrantes, depois de passar uma temporada bastante difícil nos Estados Unidos. Lembro-me de ouvir meu pai contar sobre o esforço que ele fez para aprender o idioma e como isso era importante para que ele se sentisse aceito e integrado.
Sou formada em letras pela USP e dou aulas há muitos anos. Trabalho como coordenadora pedagógica em uma escola e tenho bastante familiaridade com desenvolvimento de programas pedagógicos, desenvolvimento de materiais, alunos estrangeiros, treinamento de professores, enfim, acho que no projeto ANDORINHA consegui juntar uma pouco de todas essas coisas.
5. Quais foram seus principais desafios para começar esse trabalho?
O primeiro grande desafio foi a dificuldade de encontrar voluntários comprometidos e capacitados para ministrar as aulas. O ensino do português como língua estrangeira ainda não é muito explorado no Brasil. Agora as coisas estão mudando, mas ainda faltam profissionais preparados no mercado. Se é difícil encontrar pessoas para trabalhar com remuneração, imagina voluntariamente. Diante disso, minha primeira ideia foi abrir uma seleção para pessoas sem experiência e capacitá-las, mas não deu muito certo. Dos dez voluntários inscritos só apareceram dois. Aí percebi que era melhor mudar de estratégia.
Nós começamos com dois voluntários e eu assumi o restante das aulas. Fomos bem! Foi importante para que eu pudesse estar bem perto neste começo e pudesse entender realmente quais eram as necessidades e as características do público com o qual estamos trabalhando.
Nossa equipe ainda é reduzida, mas é muito sólida!
Além dos desafios de se levar um projeto adiante sem a possibilidade de dedicação integral a ele, para mim, um dos maiores conflitos é conseguir medir até que ponto posso e devo me envolver com as histórias pessoais dos alunos. Estamos trabalhando com um público que precisa de todo tipo de auxílio! Nos primeiros dias de aula nossos parceiros do CRAI (centro de referência e acolhimento dos imigrantes) fazem o cadastro dos alunos e listam as principais necessidades de cada um. Eles, como serviço social, conseguem e estão capacitados para dar este suporte, mas, ainda que trabalhemos de maneira focada com as aulas, as demandas sempre surgem e são diversas! É muito difícil não se comover! Preciso me segurar para não levá-los para casa! Sei que essa não é a forma adequada de resolver as coisas, então respiro fundo, e me concentro no meu propósito. Se eles conseguirem sair desta formação com o mínimo de independência e autonomia linguística, já estaremos satisfeitos.
6. Quais são seus maiores desafios no trabalho agora?
Neste momento nossa grande questão é a falta de verba! Por conta disso tivemos de adiar em três meses o início das aulas e reduzir o número de vagas oferecidas. Fizemos uma campanha de financiamento colaborativo e não arrecadamos nem um quarto do que precisávamos. Começamos mesmo assim! Já havia uma grande quantidade de gente esperando para começar o curso.
Essa questão acaba travando tudo! Nós oferecemos lanche e transporte e a verba é destinada para isso! Com mais recursos talvez pudéssemos também oferecer ajuda de custo aos professores e talvez pudéssemos ampliar o número de turmas. Já temos uma lista de espera com mais de 30 nomes! Há pouquíssimas mulheres em sala de aula! Sei que é também uma questão cultural dos muçulmanos, mas isso me angustia muito. Queria poder trazê-las! Nós sabemos que em situações limite são as mulheres as que mais se prejudicam e sofrem.
Estou fazendo um curso muito bom sobre o terceiro setor que tem me ajudado a entender quais são as possibilidades de encaminhamento deste projeto para que ele possa se manter solidamente em todos os sentidos. Acho que o caminho está em transformá-lo em algo mais profissional para que eu possa dedicar-me só a isso e assim direcionar mais energia e tempo para as questões importantes.
7. Se você pudesse citar 5 das características que você considera ideais em um líder, quais seriam?
Ele deve ser proativo, mas deve saber delegar. Apaixonado, deve se sentir motivado em formar pessoas. Deve ser polivalente e sensível.
8. Se você pudesse citar 5 das características que nenhum líder deveria ter, quais seriam?
Acho que ser centralizador é uma das piores características de um líder. Além dessa, podemos citar a incoerência entre discurso e ação, falta de objetividade em termos de direcionamento do trabalho a ser desenvolvido e inabilidade no trato com pessoas.
9. Se você pudesse escolher alguém para trabalhar com você, quais habilidades e valores essa pessoa teria?
Comprometida, proativa, criativa, colaborativa, flexível, humana. Com esses valores e vontade, acredito que uma pessoa pode desenvolver as habilidades necessárias para a realização do trabalho. Inclusive é isso que temos feito! Recebemos alguns voluntários interessados em participar que não tem formação nem experiência como professores. Desenvolvemos um programa de treinamento e formação para capacitá-los a trabalhar com os próximos grupos. Outro dia li uma frase que sintetiza este pensamento: “Contrate caráter. Treine habilidade.”
10. Quando foi a última vez que pensou em "desistir"? E por que continuou?
Não sei exatamente se pensei em desistir, mas senti que tinha dado um passo maior do que a perna e os efeitos foram bem exaustivos! Quando entrei em contato com o CRAI para me oferecer como professora, fui chamada para uma reunião no dia seguinte! Eu podia disponibilizar uma noite da semana para esta atividade, mas de professora passei a coordenadora e, como sou megalomaníaca, me vi fazendo o programa do curso, o programa do treinamento de professores, o material didático, arrecadação de verba, transporte de doações, comprando e fazendo lanche, administrando as burocracias de se lidar com duas instituições e com várias pessoas, enfim... Além disso, o professor que começou com a turma se mudou para a França no meio do processo e eu acabei assumindo todas as aulas.
Foi duro e eu pensei se realmente conseguiria levar tudo aquilo, mais o trabalho, a casa, o marido, enfim... O que me comoveu bastante foi a quantidade de pessoas que se dispuseram a ajudar. Ainda que eu fosse a peça central do projeto, muitos queridos surgiram para aliviar um pouquinho! Isso, sem dúvida, foi o que me fez pensar que iria dar certo. Na verdade, eu não seria capaz de abandonar os alunos! Vê-los se desenvolvendo, falando, rindo, não tem preço!
11. Qual foi o derradeiro "empurrão" que fez você começar?
Acho que o derradeiro empurrão foi o desespero! Sério! Como falei na primeira pergunta, sempre fiz trabalho social, sempre estive envolvida com essas questões. Nunca me esqueço quando aos 14 anos a minha grande referência de agente transformador Ute Craemer (fundadora da Associação Comunitária Monte Azul) me disse que antes de ajudar e de me envolver profundamente com as questões dos outros eu precisava me fortalecer.
Sempre tive isso em mente e por um bom tempo tive de deixar essas questões de lado para trabalhar, ajudar em casa, enfim, minha vida deu uma grande virada e ainda bem jovem precisei cumprir com muitas obrigações de adulto!
Depois que as coisas ficaram um pouco mais estáveis, e eu tive tempo e possibilidade de escolher que caminho gostaria de seguir, voltei a sentir uma angústia sufocante. As outras coisas começaram a perder o sentido e eu percebi que precisava mudar e que precisava encontrar uma forma disso caber na minha vida.
A questão dos imigrantes se apresentou como uma ótima opção, bem concreta. Eu já dava aulas há muito tempo e não precisaria de muitos recursos iniciais para desenvolver um projeto. O meu tempo e minha energia seriam os principais ingredientes para levar a ideia em frente.
Acho que passados 16 anos do dia em que recebi os conselhos da minha querida Ute, já estou pronta para assumir esse caminho. Nunca me esqueci dessa recomendação! Espero ter feito um bom trabalho interno!
12. O que significa ter sucesso (ou ser bem-sucedido) para você?
Sem dúvida a palavra “sucesso”, e tudo que ela carrega dentro das perspectivas profissional e pessoal, é mais uma daquelas que pertencem ao campo das ideias que as pessoas acham que tem o mesmo significado para todo mundo. Para mim, na minha vida e de acordo com meus valores e projetos, ser bem-sucedido é poder encontrar um caminho neste mundo que viabilize a expressão da sua verdade interior, das suas aptidões e desejos profissionais e que disso você possa obter um retorno financeiro digno.
Eu vivo isso diariamente! Meu marido é músico e, embora os tempos sejam outros, ainda há muita gente que acredita que não é possível, nem sério, nem suficiente viver deste tipo de trabalho. Além dele, já recusei muitas ofertas que aparentemente seriam irrecusáveis para outras pessoas por acreditar que aquilo não seria animicamente suficiente para me manter naquele lugar, mesmo que em decorrência disso tivesse que passar um aperto financeiro. Nós, como todos os outros, temos contas para pagar, temos vontade de ter filhos, viajar, enfim, mas acho muito injusto que as pessoas tenham como regra que sacrificar suas potencialidades como indivíduos. Sei que é um equilíbrio complicado de se conseguir, ainda mais numa sociedade intrinsecamente injusta como a nossa, mas acho que a busca de uma vida é essa!
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